Uma das críticas que faço ao jornalismo brasileiro é pela não contextualização das notícias apresentadas. Seria muito pedir isso ao Jornal Nacional, mas dos jornalões é o que eu exigiria se tivesse pouco tempo e pagasse anuidade: eles deveriam facilitar a minha vida.
Alegam, os editores, que falta espaço para explicar. São quinze linhas para dar a notícia. E olhe lá. Por outro lado, na internet, as 400 linhas necessárias para uma grande reportagem de jornal podem ser reduzidas a 40, graças aos links. Quem quiser saber mais é só perseguí-los.
Não acho que seja um problema de espaço. Dou um exemplo. A Folha Online noticia que o governo dos Estados Unidos deu garantias à China de que os investimentos em papéis do governo americano estão seguros. São 727,4 bilhões de dólares. O título diz: "Governo da China diz estar preocupado com empréstimos feitos aos EUA".
Lá no meio está a verdadeira notícia. A declaração do primeiro-ministro da China, Wen Jiabao: "Nenhum país pode pressionar a China para que ela valorize ou desvalorize" o yuan, disse.
Se você analisar o contexto em que essa declaração foi dada vai entender melhor. A previsão de déficit dos Estados Unidos no ano fiscal que termina em setembro de 2009 é de 1,75 trilhão de dólares.
Ao depor no Congresso, durante o processo de confirmação de seu nome para o cargo, o secretário do Tesouro Timothy Geithner havia acusado a China de manipular sua moeda, o yuan, mantendo-a artificialmente desvalorizada em relação ao dólar. Com isso, os chineses competem mais eficazmente contra produtos norte-americanos, inclusive nos Estados Unidos.
À luz dessa declaração entendemos o que disse o primeiro-ministro da China, na linguagem da diplomacia: "Não palpitem sobre o yuan, caso contrário a gente não investe mais em papéis americanos". A China nem precisa tirar o dinheiro que tem investido na papelada de Washington. É só dizer que não vai comprar mais para provocar a desvalorização dos títulos do Tesouro. Seria um tiro contra o próprio pé, com certeza, mas em compensação o dólar despencaria e deixaria de ser a moeda de referência internacional.
O que os chineses acabam de dizer a Washington é: vamos financiar a recuperação da economia americana comprando papéis do Tesouro, mas sob nossas condições. Mais ou menos o que o FMI fazia conosco.
Por:Luiz Carlos Azenha
Fonte:Vi o Mundo
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