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Pesquisador da Universidade de Londres apresenta tese em livro.
Conexão de tribo africana com judeus é real, mas não prova ideia.


Reinaldo José Lopes
Do G1, em São Paulo

A interminável busca pela Arca da Aliança, fabuloso objeto bíblico que simbolizaria a presença de Deus na terra e contaria com poderes extraordinários, já passou por todo tipo de local exótico -- mas pouca gente seria capaz de imaginar que ela iria parar num museu decrépito do Zimbábue. De acordo com o britânico Tudor Parfitt, professor de estudos judaicos da Universidade de Londres, é nesse local improvável que a legendária Arca está guardada -- e ele diz que pode provar.

Antes de entrar no mérito da argumentação de Parfitt, no entanto, é importante entender a história e os possíveis destinos da Arca. A caixa, feita de madeira de acácia, abrigava os Dez Mandamentos dados a Moisés por Deus no monte Sinai, segundo a narrativa bíblica (confira uma das reconstruções possíveis do objeto abaixo). Segundo a tradição israelita, a chamada Presença de Deus usava a Arca como uma espécie de habitação temporária durante toda a jornada do povo hebreu pelo deserto, após sua fuga rumo à Terra Prometida.

A Arca seria capaz de queimar espinhos no caminho dos israelitas, fazer abrir as águas do rio Jordão para a passagem dos hebreus, derrubar as muralhas das cidades inimigas e até causar doenças e morte em israelitas e não-israelitas que a profanassem. Quando o Templo de Jerusalém foi construído pelo rei Salomão, afirma a narrativa bíblica, a Arca foi guardada no Santo dos Santos, local mais sagrado da construção. Mais ou menos nessa época, as menções ao objeto na Bíblia desaparecem, e não se sabe o que aconteceu com ela quando o Templo de Salomão foi destruído pelo rei Nabucodonosor da Babilônia em 586 a.C.

Parfitt conta que ficou fascinado por esse enigma ao estudar a tribo dos lembas, um grupo africano espalhado por países como África do Sul, Zimbábue e Moçambique. Os lembas, apesar de falarem um idioma do grupo linguístico banto, comum na região, conservam uma série de hábitos estranhamente "judaicos, como o culto a um deus único, a proibição de comer carne de porco ou de misturar qualquer carne com leite e derivados e a tradição de que seus ancestrais teriam vindo de Jerusalém para a África. Em resumo, os lembas se consideram judeus que teriam vindo da Palestina para a África.

A parte mais intrigante dessas narrativas envolve o chamado ngoma lungundu, um tambor de guerra que teria poderes divinos, o qual ficava sob os cuidados da casta de sacerdotes da tribo -- tal como a tribo sacerdotal dos levitas era responsável pela Arca entre os antigos israelitas.

Parfitt resolveu pagar para ver e passou a tentar rastrear o destino do ngoma e suas possíveis associações com a Arca. Um dos primeiros passos foi tentar identificar a rota seguida pelos supostos ancestrais dos lembas até a África -- eles contavam que, após Jerusalém, eles teriam passado pela lendária cidade de "Senna" antes de se fixar no sul do continente.

Indícios genéticos relativamente fortes mostraram que a teoria de Parfitt poderia estar correta: geneticistas estudaram o cromossomo Y (a marca genética da masculinidade, presente só em homens) dos lembas e viram que grande parte deles não é de origem africana. Na verdade, eles têm parentesco mais próximo com o de populações do Iêmen e de outras regiões do Oriente Médio, inclusive os judeus. O mais impressionante: a casta sacerdotal dos lembas carrega o chamado "cromossomo Y de Aarão", nome do primeiro sumo-sacerdote israelita. Trata-se de uma variante do cromossomo que é especialmente numerosa entre os judeus de família sacerdotal, embora também apareça em menor frequência entre outros povos.

Até aí, o raciocínio de Parfitt é cientificamente sólido. Mais especulativa é a relação direta entre o ngoma e a Arca que ele traça. Após descobrir, com a ajuda a contragosto de anciões lembas, que o tambor havia sido guardado num museu do Zimbábue por um missionário do século 19, Parfitt conseguiu analisar o objeto e datá-lo pelo método do carbono-14, o mais comum para datar objetos de origem orgânica.

O resultado: uma idade de pouco menos de 700 anos. No entanto, Parfitt havia concluído que a verdadeira Arca era, como o tambor lemba, feita apenas de madeira dura, sem adornos de ouro -- a descrição requintada seria uma idealização posterior dos autores bíblicos. Ele propõe que a Arca/tambor era usada como uma espécie de canhão primitivo, daí os rumores de seu poder divino. Com isso, a Arca "original" teria sido destruída e substituída pelos judeus ancestrais dos lembas após sua migração a partir do Iêmen. Apesar de intrigante, o argumento continua sendo circunstancial, e certamente não convencerá os mais céticos.
Fonte:G1.com.br

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